Entrevista com presidente da Aciu - Janeiro de 2021
03/01/2021


A três anos de completar um século de fundação, a Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Uberaba (Aciu), aos 97 anos, segue viva e forte na defesa dos empresários locais, segundo o presidente da entidade, Anderson Cadima. Para ele, a Aciu sempre esteve presente na vida de Uberaba, nos campos da economia, da política e no social, tendo participação importante em diversos momentos da história da cidade, como a implantação da energia elétrica e dos sinais de TV. Nesta entrevista abaixo, Cadima fala das expectativas com o novo governo municipal, comandando pela prefeita Elisa Araújo, dos desafios da economia diante da pandemia do coronavírus, mas manifesta a sua esperança de dias melhores e superação da crise.


1) A Aciu acaba de completar 97 anos de existência. Quais as ações desenvolvidas pela associação nesse quase um século que o senhor destaca como sendo de maior relevância?


Resposta: A Aciu sempre participou ativamente dos momentos de grandes decisões para Uberaba e sempre buscou o fortalecimento da classe empresarial. Primeira entidade classista do Triângulo Mineiro, a Aciu teve participação em praticamente todos os assuntos de grande porte em Uberaba, principalmente nos campos da economia, da política e do social. Um episódio de grande relevância é sobre a energia elétrica na cidade. A implantação da Cemig, ocorrida na gestão de Helmut Dornfeld, entre a década de 50 e 60, pôs um ponto final na aflição que havia se transformado o fornecimento de energia através da Usina Pai Joaquim. Outra saga foi a história da televisão em Uberaba e a Aciu acompanhou todo o imbróglio até sua solução. Enfim, foram muitos os capítulos e as brigas da Aciu para o desenvolvimento de Uberaba. Nossa instituição sempre se posicionou e buscou a defesa dos interesses dos empresários, principalmente tomando medidas contra a criação ou ampliação de impostos e taxas, em todas as áreas governamentais, tomando posições contra redução de créditos bancários, entre outras questões. Feriu o direito empresarial ou pensou em se criar algo para dificultar o já combalido empresário, a Aciu está lá para defendê-lo. Esta é a bandeira da instituição.


2) A Aciu tem oferecido uma série de serviços aos seus associados e à comunidade em geral, como é o caso do Serviço de Proteção ao Crédito, o Posto Avançado de Conciliação Extrajudicial e, agora, mais recentemente, a Aciu Log, para transporte de encomendas, dentre outros. O que motivou a associação a ativar especificamente esses serviços, em vez de incentivar empresas a realizá-los?


Resposta: Muitas vezes o empresário não consegue acesso a certos serviços e vantagens. Pela natureza da Associação e pelo fato de termos uma carteira de clientes (associados) considerável e trânsito com grandes marcas e instituições, conseguimos disponibilizar acesso a produtos e benefícios diferenciados. Nosso objetivo não é concorrer com nenhum associado, muito pelo contrário, queremos facilitar a vida do empresário. Além disso, muitos de nossos produto e serviços são ofertados por meio de parcerias com nossos próprios associados. A cada ano se torna ainda mais importante que a instituição tenha receita por meio de benefícios, pois nossa mensalidade é irrisória e é o mesmo valor há anos.


3) Qual a análise que o senhor faz da economia brasileira na última década? Acredita que o Brasil está no caminho certo para o desenvolvimento econômico e o resgate do prestígio junto aos investidores internacionais?


Resposta: No segundo mandato da presidente Dilma, nosso país atravessava uma crise séria. Na época pensávamos que em uns dois, três anos conseguiríamos alguma recuperação, após a posse do presidente Bolsonaro e a visão liberal do ministro Paulo Guedes. Porém, veio 2020, coronavírus e tudo que ele desencadeou. É como se estivéssemos em um mar bravo e cada hora tomamos caldo de uma onda maior. Mesmo em meio a tudo isso, é inegável que estamos caminhando a passos curtos, mas com expectativas de melhoras. Porém, a insegurança jurídica que vivemos no Brasil atrapalha a vinda de novos investimentos. Precisamos mudar isso para que os investidores possam querer investir aqui.


4) Muito se fala que o agronegócio hoje é um dos pilares do desenvolvimento econômico nacional, em contraponto à indústria, que atravessa momento delicado em vários setores. Qual a sua avaliação sobre esse quadro? Acredita que o agro está mais forte e mais importante para a economia do que a indústria?


Resposta: Sem dúvida o agronegócio teve um papel importante neste momento de pandemia. Mas a indústria também vem mostrando sua força. Estamos num período de recuperação das perdas que tivemos nos primeiros meses de pandemia. E essa recuperação tem sido bastante heterogênea. Devido ao distanciamento social, alguns setores ainda seguem sofrendo, mas outros já deixaram a crise para trás. Os faturamentos em vários setores já se igualaram ou até mesmo aumentaram em relação ao início da pandemia. Já a produção ainda não voltou aos seus índices de sucesso, justamente por terem interrompido as operações para reduzirem os estoques, devido a forte queda de vendas no início da crise da Covid-19. Com a retomada da demanda, o grande gargalo agora é obter insumos e matéria-prima. Superando essa fase, a produção industrial virá com tudo, por ter certeza.


5) Nos últimos anos, Uberaba diversificou substancialmente seu parque industrial, que até então dependia frontalmente da indústria de fertilizantes. Como o senhor vê o potencial de Uberaba para atrair investimentos em áreas ainda  não exploradas? Aliás, na sua opinião, o que falta para completar o leque de opções a indústria local?


Resposta: Uberaba está numa localização privilegiada e isso permite que tenhamos investimentos em áreas diversas, além de outros fatores como clima, água de qualidade e etc. Vimos nosso número de indústrias crescerem exponencialmente nos últimos anos e isso foi muito positivo. Novos investimentos são sempre bem-vindos, independente da área, mas acredito que a tendência são as empresas de base tecnológica e neste sentido o Parque Tecnológico será um grande aliado. 


6) O então prefeito Paulo Piau defendeu a implantação de um aeroporto internacional de cargas e passageiros no Cinquentão, para completar o polo de logística da região. O senhor aprova esse projeto do aeroporto internacional? E, por outro lado, como avalia a falta de voos comerciais no aeroporto Mário de Almeida Franco?


Resposta: Acreditamos que toda iniciativa de melhoria e crescimento para a região de Uberaba é bem-vinda, assim como o aeroporto internacional de cargas. Nossa região é muito rica e tem um potencial logístico diferenciado, precisamos explorar isso e aproveitar tudo que nossa localização tem a nos oferecer. Já sobre a falta de voos comerciais, esse é um imbróglio que se arrasta há tempos e tem nos trazido prejuízos, com certeza. A Aciu já participou de algumas reuniões nesse sentido, conversamos com empresários do ramo, fomos com o governo do Piau em algumas companhias aéreas, mas até hoje não conseguimos efetivamente alavancar nosso aeroporto, apesar dos esforços conjuntos. Essa é uma questão que também estaremos à disposição da prefeita Elisa para encontrarmos uma solução e conseguirmos ter opções viáveis de voo em Uberaba, principalmente para São Paulo, destino muito utilizado pelos uberabenses.

7) Muito se falou em revitalização do centro da cidade no governo Paulo Piau, mas as discussões não se materializaram. A seu ver, o que precisa ser feito para resgatar o prestígio do comercio na ruas centrais, como Artur Machado, Tristão de Castro e adjacências?


Resposta: Acreditamos que o incentivo para negócios no centro é um ponto chave. A descentralização do comércio é uma tendência mundial e temos visto que em diversas cidades, as iniciativas de permanência e atração de empresas para a área central se deu por meio de reavaliação das legislações, principalmente no que diz respeito a tombamentos e imóveis inventariados. A Aciu participou das discussões entorno do projeto “Reviva Centro” e enviou sugestões ao executivo para que a área central possa atrair empresários e também a população. Sugerimos que o governo municipal instalasse um posto de atendimento  no centro da cidade, a fim de que os cidadãos possam ter acesso a serviços, como emissão de guias em geral e outros serviços que demandem atendimento presencial, de modo a evitar que o contribuinte tenha que se deslocar até o Centro Administrativo. Esta seria uma forma de oferecer mais um local para o contribuinte resolver seus problemas, além de trazer movimento para a área central e consequentemente mais interesse de investidores, mais valor para a área. Entregamos uma carta-compromisso à prefeita Elisa com vários assuntos, inclusive esse da revitalização do centro e assim que possível iremos tratar o tema com ela e sua equipe.



8) Que análise o senhor faz de 2020 para a economia local? Foi um ano perdido?

Resposta: Não podemos dizer que foi um ano perdido. Foi um período difícil, muitas semanas de comércio fechado, restrições ao funcionamento de empresas e prestadores de serviço, mas a população entendeu a gravidade da situação e foi possível controlar o avanço da doença. Claro que sentimos muito todas as perdas, mas de um modo geral Uberaba esteve com a pandemia bem controlada. Isso contribuiu para um retorno mais rápido à rotina, tendo em vista a nova realidade, claro. O comércio, por exemplo, deu uma respirada com as vendas da Black Friday e agora também no natal, apesar das vendas no varejo físico e virtual terem registrado uma queda de 1,8% este ano, em relação ao natal 2019, segundo dados do Índice Cielo do Varejo Ampliado (ICVA). O que de um modo geral, podemos ver com bons olhos, afinal, com um ano tão conturbado, os números poderiam ter sido piores. Tivemos empresas que fecharam, mas tantas outras se reinventaram e muitas surgiram devido à pandemia, com soluções para o novo normal. O desemprego e a inflação foram variáveis econômicas que influenciaram muito na expectativa do consumidor. Estamos confiantes de que com a vacina e consequentemente a retomada da economia, 2021 será um ano melhor para todos. De um modo geral, acho que Uberaba vem se saindo bem em meio a essa crise toda e esperamos continuar assim.


9) Na sua opinião, quais devem ser as prioridades do novo governo municipal para impulsionar e fortalecer o desenvolvimento econômico de Uberaba?


Resposta: Todas as áreas são muito importantes e saúde e educação sempre são pautas que precisam de atenção. Porém, precisamos voltar os olhos pra geração de emprego e renda. Com a crise do coronavírus, essa área precisará mais do que nunca de um olhar especial. Se o executivo conseguir contribuir para o controle dos índices de desemprego e criar mecanismos de incentivo para os empresários daqui, além de atrair a vinda de novos negócios para a cidade, acreditamos que Uberaba poderá colher bons frutos nos próximos anos e ser uma das exceções das previsões advindas da crise da Covid-19.


*Entrevista publicada no Jornal da Manhã, na edição do dia 03/01/2021


 

POSTADO POR:
Comunicação Aciu
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