De Autazes
Para Maria do Rosario Ambrosio, 44 anos, mãe de cinco filhos e dona de uma barraca de frutas no mercado de Autazes, banco era "só o de sentar". Ela nunca teve conta corrente e ainda não tem. Sua vida sempre foi dura, vendendo churrasquinho na rua, mas conseguiu estudar os filhos e através da mais velha, Maria Julia, de 28 anos, que abriu uma conta no Banco Postal, pegou emprestado R$ 500 há três meses. Com esse dinheiro, Maria do Rosário largou o churrasquinho para se dedicar ao negócio que de fato melhorou a renda da família, a venda de frutas. De manhã ela coloca as frutas no carreto e sai pela vila vendendo. De tarde ela comanda sua barraca no mercado. O empréstimo, que era para ser pago em seis meses, já está sendo quitado antecipadamente.
Histórias como a de Maria do Rosário são comuns nas cidades que passaram a ter atendimento bancário e mostram que o acesso a crédito, por menor que seja, é o impulso que falta para melhorar a vida dessas pessoas. Eucila Lima da Silva é outro exemplo de alguém que conseguiu se alavancar com crédito, superando dificuldades aparentemente intransponíveis.
Eucila é deficiente física e recebe um salário mínimo da previdência social. Para complementar a renda, há cinco anos abriu um balcão de conserto de relógios. Logo que o Banco Postal se instalou na cidade, ela abriu uma conta e tirou R$ 500 emprestados para pagar em 12 vezes. Foi seu primeiro empréstimo, e com esse dinheiro acrescentou prateleiras às paredes e passou a vender também alguns itens de perfumaria. Estava aberto seu Armarinho Dara. Este ano tirou outro empréstimo, de R$ 500, para reformar a própria residência e adquirir mercadorias novas, dessa vez brinquedos e medicamentos. Já pagou e está tomando outro, de R$ 1 mil, dessa vez para aumentar a área útil da loja, ocupando todo o espaço do espaço alugado (cerca de 10 metros quadrados) com prateleiras do chão ao teto, e aumentar o número de itens vendidos.
Um empréstimo de R$ 3 mil tomado no Bradesco através do Banco Postal foi o que permitiu Raimundo Aldezir da Silva, um paraense de Irituia, alavancar o melhor restaurante de Autazes, o Pedaço da Paz. Raimundo não saiu do zero, ele já era comerciante em sua cidade natal e também em Manaus, onde viveu 17 anos antes de aportar em Autazes, em 2003. Ele já tinha as mesas, cadeiras, material de cozinha, dinheiro para alugar o espaço onde está instalado e reformá-lo. Mas faltava capital para adquirir as mercadorias - bebida, frutas, polpas, pães, carne e peixe. Depois de inaugurado, em abril passado, o Pedaço da Paz fica aberto 24 horas por dia para dar conta da procura. "Quando cheguei aqui vi que faltava um restaurante de qualidade", afirma Raimundo. (JR)
Fonte: De Autazes do Jornal Valor Econômico dia 10/11/2004
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