Para onde vamos!?
O simples fato de andar por aí, ver situações, ouvir pessoas em várias circunstâncias, ler opiniões e observar os fatos, me trouxe aqui para dar uns palpites acerca do processo de desenvolvimento da região do Triângulo Mineiro. Antes de falar do presente e vislumbrar o futuro, necessário se faz conhecer o passado e algumas variáveis que nos trouxeram até aqui. Neste sentido informo que temos vasto material histórico disponível, porém, para facilitar a pesquisa sugiro a obra “Sertão da Farinha Podre” do agora amigo Ernesto Rosa. Trata-se de um romance que conta a história da ocupação desta rica região, a partir do Desemboque (primeira comunidade da região), depois Araxá e daí por diante. Rosa é um educador por natureza e está vivíssimo ali no cotidiano de Araxá, disposto a uma boa prosa e cheio de energia. Vale a leitura, pois apesar do romance, está recheado de fatos e dados históricos.
O Triângulo Mineiro e sua vizinhança, a meu juízo, está entre as mais ricas e promissoras regiões do Estado de Minas Gerais, portanto se posiciona muito bem no cenário Nacional. Nossos limites e divisas são nada mais, nada menos que, o Rio Paranaíba (ao norte), e o Rio Grande (ao sul), além de nos avizinharmos na sua margem esquerda do São Francisco. Tais características nos definem e nos diferenciam de outras regiões. Temos água em abundância, portanto, por aqui “tudo que se planta, dá”. Avançando na história de nossa povoação, convivemos no passado, de forma prioritária, com atividades de exploração (ouro e diamantes), ciclo do gado, bem como com os dividendos das atividades ferroviárias.
A estrada de ferro Mogiana foi determinante na movimentação econômica e crescimento acelerado de algumas de nossas comunidades e seu entorno, tais como Uberaba, Sacramento, Estrela do Sul (antiga Bagagem), Araguari, dentre outras. De fato, a posterior e ampla estruturação rodoviária (estradas) com apoio da indústria automobilística definiu um novo Triângulo. A nova rota Anhanguera, ligando São Paulo a Goiás e à capital federal, nos tornaram caminho certo, não só de passagem, mas também para fixação de novos negócios, inclusive ligados ao comércio e serviços. Resumindo, as características apresentadas até então, favoreceram a enorme diversidade de atividades geradoras de riquezas: Sucroenergético (açúcar e álcool), o gado e a genética zebuína, mineração, bacia leiteira abundante, o café no cerrado, frutas (abacaxi, laranja, banana, etc), enorme produção de grãos (soja, milho, feijão e outros), carnes (bovina, suína e aves) com destaque em algumas cidades, porém, aparece praticamente em todas as cidades da região. Sem falar das indústrias que foram atraídas ao longo da história.
A construção civil, setores da moda, móveis, panificação e processamento de carnes e bebidas, incluindo leite e derivados, e muitos outros segmentos se desenvolveram bastante. Complementam este potencial, as atividades que ao longo dos anos se consolidaram no comércio, logística, serviços de toda ordem, educação (regular, ensino médio e superior) e, por último e não menos importante, as atividades com foco em tecnologia da informação. Enfim, como podem notar, temos muitas riquezas, diversidade e potencial ainda inexplorado. Estamos tranquilos, certo!!?? Aí mora o perigo..... Os produtos de consumo, principalmente vindos do agronegócio (commodities), são definidos e precificados por uma dinâmica mundial, necessitam de tecnologias avançadas e água em abundância. A situação climática, face à própria atuação do homem, é incerta.
Produzir é um verdadeiro risco. Outras regiões apareceram como novas frentes agrícolas, principalmente por oportunidade de terras, a princípio mais baratas que as nossas, além de novas rotas alternativas para escoamento de produção, incluindo a retomada de infraestrutura ferroviária em algumas delas. O custo para embarcar nossa produção, prioritariamente nos portos (até então pouco estruturados), passa a ser fator determinante. Na nossa região, a grande maioria do transporte ainda tem que ser feito por transporte rodoviário. O que nos desenvolveu antes, agora encarece nossos produtos. Apesar dos esforços e do cartorial das raças zebuínas instalado na região, boa parte, principalmente dos pequenos produtores, ainda não se utilizam destas tecnologias para melhoria de seus rebanhos.
A presente crise mundial, aliada aos problemas políticos e econômicos brasileiros, o aumento dos juros e a diminuição de consumo sufocam a indústria e seus inúmeros segmentos articulados de forma direta ou indireta, por aqui também. Cidades (não só no Brasil) se especializaram e independente de onde se localizam, tornaram-se nossos concorrentes diretos. Várias cidades envelheceram e seus centros comerciais estão pouco atrativos. Aqui também as marcas mundiais, seja por franqueamento ou de forma direta, ocupam espaços das marcas locais, sem falar do imenso crescimento das compras feitas via internet. Não mais importa onde as lojas comerciais estão, e muitas delas são totalmente virtuais. E por aí vai.... Como podemos observar, para não sermos pessimistas, são muitos os esforços que devemos imprimir para continuarmos como referência em alguns segmentos. O que fazer? Por onde ir? Qual é o próximo ciclo de desenvolvimento para esta região?
Diante dos fatos, faço algumas considerações que entendo colaborar para as respostas que ainda não temos. A primeira delas passa pela INOVAÇÃO. Os empreendedores, felizmente abundantes na região, têm buscado se diferenciar. Novos negócios apareceram, inclusive com foco em tecnologia da inovação. Estas atividades devem ser incentivadas e apoiadas. Um verdadeiro ecossistema de inovação (em consolidação) pode ser o repositor de empreendedores e mais novos negócios. Dispomos de inúmeras universidades, incubadoras, parques tecnológicos, laboratórios, zebuvalley, sunvalley, OceanO, Triangulo da Inovação, etc. Eles “DEVEM” se unir em torno de propósitos comuns. Desta forma nos posicionaremos como região geradora de inovação e atrairemos investidores, soluções para problemas em negócios urbanos e rurais, bem como de interesse público.
A COLABORAÇÃO, inclusive a partir do consumo (tendência mundial), passa a fazer parte do nosso dia a dia. Entram em cheque algumas atividades tradicionais, pois o consumidor define uma nova forma de usufruir produtos e serviços. É melhor que comecemos a nos organizar. Já vejo algumas iniciativas neste sentido, mas é necessário acelerar. Um novo modelo no que tange a tríade MORAR, TRABALHAR e ESTUDAR aparece como alternativa. Vide experimento do projeto em formação, GRANJA MARILEUSA em Uberlândia. Trata-se de um novo conceito de planejamento urbanístico com arquitetura voltada para a convivência das pessoas, respeito ao meio ambiente e tecnologia de ponta. Imagina uma cidade inteira assim. As cidades se tornariam mais inteligentes. Esse conceito atrai investimentos, riqueza e melhor qualidade de vida. Disso depende a vontade dos governantes, planejamento e articulação da comunidade em torno de uma agenda comum. Patos de Minas é uma das cidades que tem vivenciado uma proposta de planejamento: “A cidade que temos. A cidade que queremos – descobrir e preparar ideias para pintar um futuro melhor”.
Poderíamos ainda discutir inúmeros aspectos importantes como: diferenciação de produtos, identificação de origem e procedência, internacionalização das empresas, resgate das histórias, enfim, é assunto pra mais de metro. Pra não me alongar mais, por hora ficam estas percepções e pseudo-dicas. Os rios continuam correndo para o mar e esta lógica, do ponto de vista do desenvolvimento Regional, deve ser revista.
É responsabilidade dos municípios maiores e mais estruturados cuidarem dos municípios menores. Algumas barreiras geográficas sobre temas de interesse amplo (água, energia, infraestrutura, segurança, logística, investimentos, dentre outros) devem ser rompidas em favor de nossa sobrevivência coletiva.
Pensem nisso!!!
Por William Rodrigues de Brito - Gerente Regional Sebrae Triângulo